PERSEU

O oráculo de Delfos havia   predito a Acrísio, rei de Argos, que ele morreria pela mão de um neto. Por isso, quando sua filha Dânae deu à luz Perseu, o próprio Acrísio mandou encerrar Dânae e o menino em um cesto (que nos faz lembrar Moisés e o dos gêmeos Rômulo e Remo, fundadores de Roma) e lançou-o ao mar. Mas, as correntes marítimas, ao invés de fazerem naufragar o frágil recipiente que boiava, impeliram-no até  à ilhota de Sérifos, uma das Cíclades, e coube a Díctis a ventura de trazer para a terra a mulher e seu filhinho. Díctis era irmão de Polidectos, tirano da ilha, que hospedou os dois náufragos em sua côrte. Perseu cresceu rapidamente, tornando-se um jovem robusto e, quando viu que Polidectos queria obrigar sua mãe a desposá-lo, não hesitou em opôr-se ao prepotente senhor de Sérifos. Este então, na esperança de desembaraçar-se do moço, desafiou-o a trazer-lhe a cabeça de Medusa, a única das Górgonas que era mortal ( as outras  duas se chamavam Esteno e Euríale). Qualquer outro homem teria renunciado o desafio, pois se sabia que Medusa converteria em pedra quem ousasse enfrenta-la (talvez, com esse prodígio, os antigos desejassem simbolizar o remorso, que ninguém pode vencer). Perseu aceitou, com entusiasmo, o desafio, e aprestou-se a iniciar a sobre-humana tarefa. Os obstáculos surgiram desde o início , cada qual  mais forte : ninguém, na verdade, conhecia a morada  das Górgonas. E ainda que Perseu conseguisse encontrá-la , como poderia salvar-se da petrificação? Graças à  sua sorte , Palas  Atená e Hermes  vieram  em seu auxílio, dando-lhe uma foice de diamante e um espelho, dizendo-lhe, outrossim, que deveria munir-se de três objetos mágicos: um par de sapatos alados ( como aqueles que Hermes usava), uma sacola prodigiosa e um elmo que possuisse a virtude  de tornar invisível quem o usasse. Somente as Graias estavam em condições de dizer-lhe onde poderia  encontrar os três indispensaveis objetos.

As Graias, irmãs das Górgonas, tinham, cada, uma  somente um olho e um dente que emprestavam uma à outra , reciprocamente, para enxergar e comer. Eram muito velhas, bem diferentes de suas irmãs Górgonas, mas teimosas e caprichosas. De  modo que quando o jovem, depois  de muito caminhar, conseguiu encontrá-las e interrogá-las, nada  lhe responderam. Perseu, então, com bastante agilidade, apoderou-se do único olho, quando uma das Graias o passava a outra irmã, e disse-lhes que não o restituiria se não lhe respondessem às perguntas que lhes formulara. Para não ficarem  para sempre cegas, as três velhas, embora resmungando e protestando, forneceram-lhe as informações que ele desejava. Perseu, então, foi em busca de algumas Ninfas, que moravam muito distante, e delas obteve os sapatos alados, a sacola e o elmo. Mal acabara de calçar as botas, Perseu foi transportado em pleno vôo, velozmente, para a morada das Górgonas, que estavam imersas em profundo sono. Caminhando para trás, mas orientando-se com o espelho, chegou às costas de Medusa, e, com a foice de diamante,  separou-lhe a cabeça do tronco e encerrou-a na sacola,  que possuía o poder de conservá-la e de impedir que causasse mal ao vitorioso herói. Entrementes, do sangue que jorrava do pescoço decepado, surgira, por prodígio, um cavalo alado: Pégaso. Nele montou Perseu e, antes de regressar a Sérifos, foi à Etiópia, justamente quando ali se desenrolava um horrível drama.

Era rei dos Etíopes, aquele tempo, Cefeu, sua esposa Cassiopéia, tinha sido muito imprudente em gabar-se de que sua filha Andrômeda era muito mais bela do que qualquer das Nereidas. Estas Ninfas do mar considerando-se ofendidas, tinham implorado Posseidon, seu deus, para que as vingasse, e este invadira a Etíopia com as águas do mar, fazendo sair das profundezas do oceano um monstro de extraordinárias dimensões, o Ketos, que devorava incessantemente homens e animais. O oráculo de Zeus (Amon, no Egito), imediatamente consultado por Cefeu, respondera que somente um recurso existia para fazer cessar aquela mortandade: amarrar Andrômeda a um recife e oferecê-la, assim, ao monstruoso Orco. O povo achava justa essa providência, porque, embora involuntariamente, Andrômeda tinha sido a causa da cólera de Posseidon. Diante disso, Cefeu e Cassiopéia resignaram-se, e iam executar o conselho do oráculo, na praia, despediram-se, chorando, da filha que, admirável pela sua força de ânimo, aguardava o cumprimento de seu cruel destino. Já um enorme estrondo se ouvia pelo mar e atroava pelas praias. O Ketos emergia dos abismos oceânicos e avançava contra a vítima predestinada. Mas, outro estrondo ainda mais forte sobrepujou o urro bestial do Orco: tinha sido provocado pelas enormes asas de Pégaso, que conduzia em seu dorso o valente Perseu. Imediatamente, o cavalo mágico foi baixando, e a formidavél espada do herói caiu raivosamente no focínho, nas costas e na cauda do monstro, matando-o, após alguns golpes. Assim Perseu conseguiu Libertar Andrômeda, que mais tarde se tornou sua esposa.

As bodas, todavia, foram perturbadas por um lamentável incidente: justamente quando estavam cumprindo a cerimônia nupcial, apareceu Fineu, irmão do rei Cefeu e, portanto, tio de Andrômeda. Ele queria impedir que um outro desposasse a moça, que lhe fôra prometida anos atrás, e uma turba de homens armados acompanhava-o e estava prestes a atirar-se sobre o forasteiro noivo e convidados. Perseu não titubeou. Tirou da sacola, que trazia sempre consigo, a cabeça de Medusa e apresentou-a, bem alto, à tumultuosa malta; no mesmo instante, Fineu e todos os seus sequazes se transformaram em estátuas.Terminada a cerimônia nupcial Perseu e Andrômeda seguiram para Sérifos. Ali, Perseu apresentou-se ao pérfido Plidectos, para comunicar-lhe que realizara a empresâ que o rei lhe ordenara, a fim de perdê-lo. E , tirando a cabeça do monstro da sacola, exibiu-a ao tirano, que logo se transformou numa estátua de pedra negra. Perseu, então, entregou o trono de Sérifos ao bondoso Díctis, que o salvara, e à mãe, das águas do mar. Concluída esta tarefa, Perseu fez presente da cabeça da Medusa a Palas Atená, e depois, em companhia de Dânae  e Andrômeda, seguiu rumo a Argos. Mas, antes de ali chegar , parou em Larissa e tomou parte nas competições de atletismo que ali se realizavam. E então se cumpriu o estranho fado de Acrísio, que , tendo sabido do regresso do neto, refugiara-se naquela cidade , a fim de evitar-lhe o encontro, receando se cumprisse a profecia do oráculo. Um dia, quando competia com outros atletas, Perseu lançou o disco com tamanha potência que este, batendo no terreno, foi acertar Acrísio em pleno peito,  matando-o.

Desolado por haver sido a causa involuntária da morte do próprio avô , Perseu recusou reinar em Argos, preferindo ir ocupar o trono de Tirinta, e fundar algumas cidades, entre as quais Micenas, onde, mais tarde , reinaria Atreu, que era a mais ilustre e poderosa. A mitologia conta , ainda, outra aventura de Perseu: aquela que lhe ocorreu com Atlas, depois da morte Medusa e antes de voltar para Sérifos. Atlas era um  Titã, que devia segurar o mundo nas costas e que se encontrava junto ao hôrto das Hespérides. O imensurável gigante, receando que o herói desejasse saquear o jardim de pomos de ouro, adiantou-se para matá-lo, mas Perseu se defendeu do assalto mostrando-lhe a cabeça de Medusa e, assim, Atlas se transformou na imponente montanha que surge em Marrocos.